segunda-feira, 18 de outubro de 2010

era uma vez

guardo as cartas, as fotos e os diários dos anos setenta em porto alegre.
quem sabe um dia nao recebo uma bolsa para escrever sobre?
os anos passam, as cartas ficaram, a bolsa nao veio.
recebo para escrever sobre leis, temas socias, assuntos internacionais, antropologia, migracoes, prostituiçao, tráfico de pessoas.
ninguém quer saber de cartas e diários.
eu sim!
as cartas nao sao mais escritas.
e eram tao lindas as cartas.
do conteudo a forma, desenhos, beijos, colagens.
a felicidade de abrir a caixa do correio e encontrá-las.
o tempo das cartas. tempo para escrever, reler, enviar, esperar a resposta.
embora alguns amigos fizessem cópias das cartas que enviavam (tô falando de voce, zé),
o lance era escrever, mandar e se perder.
a carta deixava de ser sua pra ser do outro.
nunca vi, mas os romances falavam em casai que brigavam e devolviam as cartas.
eu nao, nunca devolvi.
guardo nas caixas.
e os diários?
eram intimos. guardados a sete chaves.
eu escrevia para registrar a vida e as emoçoes.
mas também porque gostava de escrever e reler.
tenho dezenas, desde os 13 anos.
escrevi bastante até meu filho nascer, em 1996.
aos cinquenta anos, começo a pensar que o destino de tudo isso seja o lixo.
em momentos poliana, imagino uma neta ou bisneta que encontre as ciaxas da bisa e diga: que massa!
mas depois penso que nao.
ja vi mortes e desaparecimentos das memórias.
por indiferença ou nao querer sofrer lembrando, lá se vao os rastros.
entao resolvi escrever aqui aslgumas lembranças dos setenta que foram dez.
como na musica do bebeto alves.
ele e caio fernando abreu fizeram os anos setenta acontecer.
quando tudo era pra ser ditadura, marxismo, dor e repressao,
eles pautaram a vida, o prazer, a criaçao.
junto com ricky bols, nei lisboa, nei duclós, eduardo san martim, rose porto alegre, negra lú, magra jane, giba rocha, e muitos mais que surgirao nessas paginas.
serei discreta em relaçao a nomes.
mas quem quiser entrar na roda, pode entrar.

Um comentário:

  1. Mainha, seu blog é uma delícia, daquelas esperadas e que somente você poderia nos dar. Eu guardo as cartas, tantas cartas e já pensei-despensei muitas coisas sobre o que fazer com elas. Pensei em deixar em testamento para você. Ou simplesmnete deixar ordem para que sejam devolvidas aos/as remetentes que vivos continuarem e que sejam queimadas as dos que se foram. Enquanto não digo o que fazer, de vez em quando leio uma delas, tiro a poeira, reencontro amigos e memórias, amores e dores, paixões definitivas, muita loucura, música e política. Bom, com isso quero apenas dizer que estou na roda, ok? Beijos e amor!

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