sábado, 11 de fevereiro de 2012

Wislawa Szymborska

Antes das férias de verão comprei um livro chamado [poemas], de wislawa szymborska
Comprei porque gosto de poemas
Gosto de poemas porque eles funcionam como uma uti quando estou saturada/intoxicada de palavras mediocres
de senso comum
ou quando preciso traduzir a dor com palavras

Comprei o livro também porque a capa é maravilhosa,
uma senhora [wislawa] fumando, fumaça no rosto, café ou chá na frente.



Bastou ler um verso, ainda de pé na livraria, para sentir o impacto de uma poesia perfeita, cirúrgica, limpa.

Ao ler a poesia "Agadecimentos", uma revelação.
Pensei em todos os meus amigos.
Especialmente Átila e Shirley, que estavam deixando Brasília.
E a poesia traduziu, again, a felicidade do amor sem amor que sentimos pelos amigos.
É assim:

Devo muito
aos que não amo.

O alívio de aceitar
que sejam mais próximos de outrem.

A alegria de não ser eu
o lobo de suas ovelhas.

A paz que tenho com eles
e a liberdae com eles
isso o amor não pode dar
nem consegue tirar.

Não espero por eles
andando da janela à porta.
Paciente
quase como um relógio de sol,
entendo o que o amor não entende,
perdoo,
o que o amor nunca perdoaria.

Do encontro à carta
não se passa uma eternidade,
mas apenas alguns dias ou semanas.

As viagens com eles são sempre um sucesso,
os concertos são assistidos,
as catedrais visitadas,
as paisagens claras.

E quando nos separam
sete colinas e rios
são colinas e rios
bem conhecidos nos mapas.

É mérito deles
eu viver em três dimensões
num espaço sem lírica e sem retórica,
com um horizonte real porque móvel.

Eles próprios não veem
quanto carregam nas mãos vazias.

"Não lhes devo nada"-
diria o amor
sobre essa questão aberta.

Este mês Wislawa morreu, de câncer no pulmão, course.
Mas ela fará parte para sempre de minha vida, de Atila, de Shirley.
E também de Flávio Ghilardi e Renato Rezende, para quem li e com quem discuti, enquanto fazia uma colagem.

E de quem mais ler e gostar.

No momento, coração quebrado (again e again),  que Wislawa entre na minha veia e me ensine algo. O quê, não sei. O que não.


2 comentários:

  1. Maravilhoso, Maia!!!
    Hoje li um poema, na linha do gosto pelas palavras que traduzem:

    "Minhas palavras
    São como minhas roupas
    Boto todas pra fora
    Experimento
    Invento
    Deixo jogadas
    Amontoadas
    Sujas
    Mudas
    Sobre mim."
    [Paula Taitelbaum]

    Flaviatã.

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  2. Minha amiga querida, sem palavras diante da poesia da wislawa e da poesia que você faz da poesia da wislawa. Tenho saudades enormes, mas sei também que são somente algumas colinas, rios, quilômetros e dias que nos separam. Assim, te espero com ansiedade comedida e quase gostosa. Mas no fundo, humana que sou, não vejo a hora de chegares aqui... Um beijo gostoso.

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