Comprei porque gosto de poemas
Gosto de poemas porque eles funcionam como uma uti quando estou saturada/intoxicada de palavras mediocres
de senso comum
ou quando preciso traduzir a dor com palavras
Comprei o livro também porque a capa é maravilhosa,
uma senhora [wislawa] fumando, fumaça no rosto, café ou chá na frente.
Bastou ler um verso, ainda de pé na livraria, para sentir o impacto de uma poesia perfeita, cirúrgica, limpa.
Ao ler a poesia "Agadecimentos", uma revelação.
Pensei em todos os meus amigos.
Ao ler a poesia "Agadecimentos", uma revelação.
Pensei em todos os meus amigos.
Especialmente Átila e Shirley, que estavam deixando Brasília.
E a poesia traduziu, again, a felicidade do amor sem amor que sentimos pelos amigos.
É assim:
Devo muito
aos que não amo.
O alívio de aceitar
que sejam mais próximos de outrem.
A alegria de não ser eu
o lobo de suas ovelhas.
A paz que tenho com eles
e a liberdae com eles
isso o amor não pode dar
nem consegue tirar.
Não espero por eles
andando da janela à porta.
Paciente
quase como um relógio de sol,
entendo o que o amor não entende,
perdoo,
o que o amor nunca perdoaria.
Do encontro à carta
não se passa uma eternidade,
mas apenas alguns dias ou semanas.
As viagens com eles são sempre um sucesso,
os concertos são assistidos,
as catedrais visitadas,
as paisagens claras.
E quando nos separam
sete colinas e rios
são colinas e rios
bem conhecidos nos mapas.
É mérito deles
eu viver em três dimensões
num espaço sem lírica e sem retórica,
com um horizonte real porque móvel.
Eles próprios não veem
quanto carregam nas mãos vazias.
"Não lhes devo nada"-
diria o amor
sobre essa questão aberta.
Este mês Wislawa morreu, de câncer no pulmão, course.
Mas ela fará parte para sempre de minha vida, de Atila, de Shirley.
E também de Flávio Ghilardi e Renato Rezende, para quem li e com quem discuti, enquanto fazia uma colagem.
E de quem mais ler e gostar.
No momento, coração quebrado (again e again), que Wislawa entre na minha veia e me ensine algo. O quê, não sei. O que não.
Maravilhoso, Maia!!!
ResponderExcluirHoje li um poema, na linha do gosto pelas palavras que traduzem:
"Minhas palavras
São como minhas roupas
Boto todas pra fora
Experimento
Invento
Deixo jogadas
Amontoadas
Sujas
Mudas
Sobre mim."
[Paula Taitelbaum]
Flaviatã.
Minha amiga querida, sem palavras diante da poesia da wislawa e da poesia que você faz da poesia da wislawa. Tenho saudades enormes, mas sei também que são somente algumas colinas, rios, quilômetros e dias que nos separam. Assim, te espero com ansiedade comedida e quase gostosa. Mas no fundo, humana que sou, não vejo a hora de chegares aqui... Um beijo gostoso.
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